O veneno do baiacu

Você já comeu baiacu? Aquele peixinho esquisito que infla quando você faz cosquinhas na barriga dele? Ainda não conseguiu lembrar? É esse cidadão aqui ó:

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Foto: Geraldo da Silva Souza

Caso esteja pensando em comer um peixe dessa espécie, leia essa matéria primeiro. Não que eu queira assustá-lo ou persuadi-lo a não comer o peixe. Não, não é isso. Só é uma questão de saber o risco envolvido. Precaução nunca é demais, certo?

Pra quem não sabe, o baiacu é um peixe muito comum no Brasil. Ele é pescado com certa facilidade e constância por pescadores amadores, principalmente na pesca de praia.

As espécies mais comuns aqui em nossos mares (e águas salobras também) são o baiacu pintado e o baiacu arara. Este último está mais presente na Região Sudeste do país, principalmente nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Felizmente não há no Brasil o baiacu “fugu”, uma espécie muito comum no Japão. O veneno do baiacu fugu é bem mais forte do que o encontrado nos baiacus tupiniquins.

O baiacu pintado encontrado aqui também é bastante venenoso, já o baiacu arara nem tanto. Isso não significa, obviamente, que você pode comer o baiacu arara sem se preocupar. Não é isso. O veneno do baiacu arara pode até não ser tão forte, mas também oferece riscos. No mínimo um baita mal estar para quem ingeri-lo.

O veneno (que a grande maioria dos baiacus possuem) se chama tetrodotoxina e, ao contrário do que muitos pensam, não é produzido pelo peixe, mas sim por bactérias que ficam alojadas em suas gônadas e outros tecidos viscerais.

Tal toxina é fatal para o homem (1.200 vezes mais mortal que o cianeto) e ocorre também na pele de salamandras aquáticas, bodiões, alguns sapos e polvos, estrelas-do-mar, porco espinho, entre outros.

O veneno do baiacu fica espalhado por todo o corpo do animal – desde as escamas até o fígado – e o pior: a morte causada por ela não é indolor, porém é rápida.

O tempo de reação à sua ingestão depende da quantidade de veneno ingerido e de qual espécie foi consumida. Entretanto, normalmente os primeiros sintomas da intoxicação (dormência nos lábios e na língua) aparecem entre 20 minutos a 3 horas depois da ingestão da carne contaminada. Em seguida os dedos começam a amortecer e apresentar espasmo, momento em que ainda há tempo de chegar ao hospital para um internamento emergencial.

Mais tarde o paciente começa a sentir fraqueza muscular e ter surtos de diarreia e vômito, podendo progredir daí em diante para parada respiratória enquanto ainda está consciente.

Há relatos também de vítimas que sofreram “zumbificação”. Um estado causado pelo encontro da tetrodotoxina com outras neurotoxinas que já estavam no corpo da pessoa. Isso faz com que esta seja completamente paralisada, dando a impressão que está morta. Depois as funções cerebrais voluntárias são retiradas e a pessoa torna-se um cadáver que pode se mexer, mas não sabe o que está fazendo. Sinistro, né?

É de impressionar a qualquer um e ainda nos fazer perguntar: quem, em sã consciência, teria coragem de comer esse peixe após saber de tudo isso? Por incrível que pareça, muita gente.

O segredo está em comer os exemplares maiores peixes. Isto porque os espécimes pequenos tem a tetrodotoxina espalhada por todo o corpo, enquanto os grandes apenas nas vísceras e na pele. Além disso, é preciso efetuar corretamente a limpeza do peixe ou se certificar que quem fez a limpeza tirou intacta aquela bolsinha de veneno.

Essa “bolsinha” é o famoso fel onde está o veneno do baiacu. Trata-se de uma bolsa pequena de cor escura que concentra a toxina. Se o fel se romper, jogue fora o peixe. Se ele estiver intacto, eu diria que o peixe pode ser consumido, mas o risco fica a critério de cada um, é claro.

No Estado do Espírito Santo a moqueca de baiacu é uma iguaria muito apreciada. E, de fato, é realmente muito saborosa. A carne do peixe é bem branquinha e firme, além de saborosa. Ele frito também fica uma delícia.

Como você pode ver, o baiacu é um peixe que pode ser amado ou temido. Pelas particularidades da espécie, eu diria que ele pode (e deve) ser ambos.

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Um grande abraço e Bóra Pescar!

Texto: Marcelo Paste